Olhei pro rosto de Guevara, a fronte altiva, coragem rara,
satisfação. Fazer uma revolução, banhar as mãos e o rosto em
sangue vivo, e, se preciso, fazer da morte uma libertação
Empunhar rifles, franzir a alma, não só a testa, usar a força que
ainda resta, pra humanizar um mundo corrompido. Renunciar
ao amor de uma mulher pra se entregar ao amor proibido:
o que se sente ao se deparar semelhante oprimido
Lutar pra quê? Lutar pra quem? Eu não defendo um
Falso Herói Coroado rei
Tampouco a terra, leito de ganância que não cultivei. Nem
guerra santa, raça, crença ou credo me farão matar, porque o Deus
que teimo acreditar não fez cruzadas para me conquistar
E aceita Buda, papal, Hare Krishna, rabino ou Alá
Então, me isento de qualquer desejo de revolução, chego a
pensar que não sou cidadão, e saio à rua sem nada nas mãos.
Mas de repente...
A me vida me mostra seu maior valor
Quando um menino sujo, seco, sem pudor, vasculha o lixo,
levando à boca um pedaço de pão.
Empunho o rifle na imaginação e o guerrilheiro se faz um irmão
Fabrício Carlos Jardina Penha- compadre da moradia FMRP
terça-feira, 14 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
Verdes Mares Fortalezenses
Agarrado a um braço amigo
Vejo a minha nau naufragar à deriva
Pois te deixei quebrar a minha bússola
E à deriva permaneço
Sinto que a cada onda que ultrapasso
Afasto-me de ti mais e mais
Mas que a vontade do mar seja feita
É quem nesse momento tem as rédeas do meu destino
É quem sabe da estupidez que não permite que eu seja,
Apenas e só teu amigo
E que por isso sempre a vejo
Com a saudade do que poderia ter sido
E agarro-me a vida
E a vivo como nunca
Pois o que nunca se teve não pode jamais ser perdido
Vejo a minha nau naufragar à deriva
Pois te deixei quebrar a minha bússola
E à deriva permaneço
Sinto que a cada onda que ultrapasso
Afasto-me de ti mais e mais
Mas que a vontade do mar seja feita
É quem nesse momento tem as rédeas do meu destino
É quem sabe da estupidez que não permite que eu seja,
Apenas e só teu amigo
E que por isso sempre a vejo
Com a saudade do que poderia ter sido
E agarro-me a vida
E a vivo como nunca
Pois o que nunca se teve não pode jamais ser perdido
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
A Desilusão do Migrante
Quis dizer algo
Do que queria ser
Que não sou
E não cabe mais em mim mesmo
Porque o senso comum
Nunca me foi comum
E sou estranho a mim mesmo:
Minha cabeça não se encaixa a meu corpo
Minhas mãos desajeitadas agem alheias às minhas idéias
O vento vem e varre as folhasque quero
Deixa outras que não quero
De modo que fico cada vez mais cheio
E cada vez mais vazio
Quando vim de minha terra
Se é que vim, não estou morto por lá
O mundo girava alheio à minha pessoa
E nesse giro, entrevi
Que não se vai de lugar algum a nenhum
Que carregamos as coisas
Rígida cerca de arame da nossa alma
Na mais anônima célula
Quando vim de minha terra
Não vim, perdi-me no espaço
Na ilusão de ter saído
E lá estou enterrado
Por baixo de gerações
Janelas do meu quarto
Com vista pro mangue, tão parado
Adiante estava o aeroporto
Que tantas vezes me deu lições de partir
Sabem que parti a fugir de mim mesmo
E a querer me encontrar
Aqui encontrei certa liberdade de espírito
Mas novamente quero partir
Mesmo sabendo que não vou encontrar
Nenhuma identidade que não sei onde perdi
Aqui, apreendi, sim
O amargo alento que traz
A observação da miséria humana
O valor da vida
Onde quer que ela se mostre
Da verdade
A angustiada procura da expressão da
Mais profunda realidade humana
E nisto tive prazer
Procurei no amor o bálsamo da vida
Não encontrei senão desilusão e morte
Tive sim, momentos de transverberada ternura
Que à lembrança, umedecem os olhos
Mas que os dias não trazem mais
Deixo minha grande ternura
Pelas mulheres que me amaram e eu não pude amar
Pelos pacientes que não pude ajudar
E pelos amigos dos momentos de alegria e ternura
Deixei um dia a vista de um mangue,
Úmido, do prédio de apartamentos,
Da primeira mulher que amei
Deixo agora esta casa, esta vista constante
De uma estante de livros,
Alguns que nunca lerei
E de mais uma floresta bela e histórica
Que ainda hoje me é estranha
E mais outros amores mal-sucedidos
Vou-me, adeus para nunca mais
Sei que um dia virão
Prefeitos e burgueses
Que contra a frágil organização
Do ébrio proletariado desta casa,
A destruirão e a difamarão,
Vao pô-la abaixo
Mas meu quarto continuará
Imóvel, intacto, suspenso no ar
Com seus livros, discos e sonhos
Agora queria mesmo uma janela para o mar
- o melhor confessor
Que nas doces tardes frias
De tons purpúreos
Ouça a voz de minhas nostalgias
E que a baterem ondas precipitadas
Nesta janela - em longos uivos
De gementes sereias despedaçadas
Façam novamente bater meu coração
(Poemas 'juntados' às vésperas de deixar a Casa do Estudante de Medicina, que foi meu lar por 6 anos)
Do que queria ser
Que não sou
E não cabe mais em mim mesmo
Porque o senso comum
Nunca me foi comum
E sou estranho a mim mesmo:
Minha cabeça não se encaixa a meu corpo
Minhas mãos desajeitadas agem alheias às minhas idéias
O vento vem e varre as folhasque quero
Deixa outras que não quero
De modo que fico cada vez mais cheio
E cada vez mais vazio
Quando vim de minha terra
Se é que vim, não estou morto por lá
O mundo girava alheio à minha pessoa
E nesse giro, entrevi
Que não se vai de lugar algum a nenhum
Que carregamos as coisas
Rígida cerca de arame da nossa alma
Na mais anônima célula
Quando vim de minha terra
Não vim, perdi-me no espaço
Na ilusão de ter saído
E lá estou enterrado
Por baixo de gerações
Janelas do meu quarto
Com vista pro mangue, tão parado
Adiante estava o aeroporto
Que tantas vezes me deu lições de partir
Sabem que parti a fugir de mim mesmo
E a querer me encontrar
Aqui encontrei certa liberdade de espírito
Mas novamente quero partir
Mesmo sabendo que não vou encontrar
Nenhuma identidade que não sei onde perdi
Aqui, apreendi, sim
O amargo alento que traz
A observação da miséria humana
O valor da vida
Onde quer que ela se mostre
Da verdade
A angustiada procura da expressão da
Mais profunda realidade humana
E nisto tive prazer
Procurei no amor o bálsamo da vida
Não encontrei senão desilusão e morte
Tive sim, momentos de transverberada ternura
Que à lembrança, umedecem os olhos
Mas que os dias não trazem mais
Deixo minha grande ternura
Pelas mulheres que me amaram e eu não pude amar
Pelos pacientes que não pude ajudar
E pelos amigos dos momentos de alegria e ternura
Deixei um dia a vista de um mangue,
Úmido, do prédio de apartamentos,
Da primeira mulher que amei
Deixo agora esta casa, esta vista constante
De uma estante de livros,
Alguns que nunca lerei
E de mais uma floresta bela e histórica
Que ainda hoje me é estranha
E mais outros amores mal-sucedidos
Vou-me, adeus para nunca mais
Sei que um dia virão
Prefeitos e burgueses
Que contra a frágil organização
Do ébrio proletariado desta casa,
A destruirão e a difamarão,
Vao pô-la abaixo
Mas meu quarto continuará
Imóvel, intacto, suspenso no ar
Com seus livros, discos e sonhos
Agora queria mesmo uma janela para o mar
- o melhor confessor
Que nas doces tardes frias
De tons purpúreos
Ouça a voz de minhas nostalgias
E que a baterem ondas precipitadas
Nesta janela - em longos uivos
De gementes sereias despedaçadas
Façam novamente bater meu coração
(Poemas 'juntados' às vésperas de deixar a Casa do Estudante de Medicina, que foi meu lar por 6 anos)
O Haver (Trecho)
Acima de tudo essa capacidade de ternura
Essa perfeita intimidade com o silêncio
Esse antigo respeito pela noite
A vontade de chorar diante da beleza
Essa inércia cada vez maior diante do infinito
A cólera cega em face do mal entendido, da injustiça
Esse ridículo desejo de ser útil
E a coragem de se comprometer sem necessidade
Esse diálogo cotidiano com a morte,
Esse fascínio do que irá vir
Sem saber que é a minha mais nova namorada
Vinícius de Morais
Essa perfeita intimidade com o silêncio
Esse antigo respeito pela noite
A vontade de chorar diante da beleza
Essa inércia cada vez maior diante do infinito
A cólera cega em face do mal entendido, da injustiça
Esse ridículo desejo de ser útil
E a coragem de se comprometer sem necessidade
Esse diálogo cotidiano com a morte,
Esse fascínio do que irá vir
Sem saber que é a minha mais nova namorada
Vinícius de Morais
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Vou-me Embora de Pasárgada-Millôr
Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do Rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha
Ainda é mais coerente
Do que os donos do país
(...)
Pasárgada já não tem nada
Nem mesmo recordação
E nem fome nem doença
Impedem a concepção
Telefone não telefona
Drogas são falsificadas
E prostitutas aidéticas são nossas namoradas
(Bandeira que nos perdoe)
Sou inimigo do Rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha
Ainda é mais coerente
Do que os donos do país
(...)
Pasárgada já não tem nada
Nem mesmo recordação
E nem fome nem doença
Impedem a concepção
Telefone não telefona
Drogas são falsificadas
E prostitutas aidéticas são nossas namoradas
(Bandeira que nos perdoe)
O Anestesista
Nunca a névoa matinal foi tão fria
Quando desgruda lento da cama
Um anestesista em dor cotidiana
No despertar agudo da segunda-dia
Quando vela o sono dos doentes do coração
Embala também o seu, numa dor nunca esquecida
Porém hoje, se apaga a angústia do dia e,
Estranho, transverbera calor e inspiração
À noite, no escuro, a face lhe-se ilumina
Sonha acordado com uma clara criatura
Que a sorrir-lhe, misteriosa, doce e pura
Enrubece a boca ao dizer que o queria
Quando desgruda lento da cama
Um anestesista em dor cotidiana
No despertar agudo da segunda-dia
Quando vela o sono dos doentes do coração
Embala também o seu, numa dor nunca esquecida
Porém hoje, se apaga a angústia do dia e,
Estranho, transverbera calor e inspiração
À noite, no escuro, a face lhe-se ilumina
Sonha acordado com uma clara criatura
Que a sorrir-lhe, misteriosa, doce e pura
Enrubece a boca ao dizer que o queria
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