sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os Mortos Ensinam os Vivos

   ( I )

Trabalho entre mortos e com eles converso
coisas do tempo passado e negócios do espírito
pergunto ao morto que causa o levou
ele só diz que viveu e que amou,
foi amado e sentiu saudade dos que partiram
que acalentou sonhos e um amanhã tranquilo
que poderá tornar-se matéria nobre ou vil
conforme se retém ou se passa
que é melhor dar à lamina fria
da aula do anatomista
que deixar aos vermes a carne sem vida
melhor seguir o inexorável destino
que lhe deu a oportunidade
a grandeza de servir a humanidade
que por ele passou indiferente

( II)

Diz-me que não é dor nem paz, é noite
noite mais morte que a morte
e nós somos a noite
e em noite nos dissolvemos
pois lhe digo que apenas vivo
sem qualquer motivo
sem saber por quê,
como, para quê,
também vivo, cadáver
rotina mais triste
tão sem água ou carne

Ele me pega na mão e diz
amigo não sabes que existe amanhã?
um sorriso nasce do fundo da miséria
venci o desgosto
amanhã será outro dia
prossegue o seu giro o tempo
sinto o gosto da alegria
clara manhã, obrigado
pois que a hora mais bela
surge da hora de maior agonia