quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Para uma mulher que corre com os lobos



Uma mulher me espreita
 Sedenta de desejo
 Me conhece pelo cheiro
 E se alimenta do meu beijo

 Olhos misteriosos
 Vestidos de sua nudez
 Pendurados na madrugada
 Conservando dentro de si
 O que de si extravasa

 De indomada e graciosa beleza
 Ilumina feroz a alma inquieta
 Convida a penetrar os segredos
 Da selvagem feminina natureza
 Devotada, ardorosa, fiel, liberta

 Em código de entrelinhas
 Diz o que só passa através de fendas
 Sussuros, perigos
 Insiste em inscrever-se intensa

 Sem palavras toca os sentidos
 E um dia será rodamoinho
 De cabelo e cheiro
 Na cama desarrumada

No coração flagrante, a flor da vida
 Flor da vida no terraço de terra
 Desabrocha no calor do dia
 Dessa união sagrada

Janaína

Naquela hora silenciosa
Clareou no pretume da noite
Resplandescente sorriu-se a meia-lua
minguante

Logo vem vindo - ao lado
A estrela Vênus
Gota de azougue, prata-viva
No oceano do firmamento

Cintilando, reluzindo
Ora topázio, ora rubi
Tal qual os olhos do meu amor

Eu aqui cá pensando
Nos teus encantos
Chego um dia por merecer
A luz na consciência e no coração
Pra chegar da firmeza a fonte conhecer

A força da origem do universo
Em beleza e prosa e verso
Pra todos que puder ver.
                                                                                      08/09/2012.

O Perdão que vem do Sol


Ao caminhar  à  beira-mar
O Sol que gera toda cor
Atravessou  e  iluminou minh`alma
Parei para olhar uma oração à beira de uma cruz
Ao largo da ponte que se enfia adentro ao mar
E lembrei-me do meu pai
Que não foi ao enterro do próprio pai
Orei junto e senti paz ao sol agradecido pelo momento

No rádio do carro ouvi falar da Fortaleza antiga
Da maria-fumaça que passava no Adahil Barreto
Quando o som enferrujado das rodas nos trilhos
E um apito ao longe me embalava o sono

Trilhos que percorri com meu pai primeiro
Pra passear no trenzinho dos domingos à tarde
E depois assistirmos juntos à pantera cor de rosa

Hoje os percorri , saudoso,  sozinho
Com o rosto banhado de lágrimas quentes
Porque hoje, pai, finalmente me perdooei