sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os Mortos Ensinam os Vivos

   ( I )

Trabalho entre mortos e com eles converso
coisas do tempo passado e negócios do espírito
pergunto ao morto que causa o levou
ele só diz que viveu e que amou,
foi amado e sentiu saudade dos que partiram
que acalentou sonhos e um amanhã tranquilo
que poderá tornar-se matéria nobre ou vil
conforme se retém ou se passa
que é melhor dar à lamina fria
da aula do anatomista
que deixar aos vermes a carne sem vida
melhor seguir o inexorável destino
que lhe deu a oportunidade
a grandeza de servir a humanidade
que por ele passou indiferente

( II)

Diz-me que não é dor nem paz, é noite
noite mais morte que a morte
e nós somos a noite
e em noite nos dissolvemos
pois lhe digo que apenas vivo
sem qualquer motivo
sem saber por quê,
como, para quê,
também vivo, cadáver
rotina mais triste
tão sem água ou carne

Ele me pega na mão e diz
amigo não sabes que existe amanhã?
um sorriso nasce do fundo da miséria
venci o desgosto
amanhã será outro dia
prossegue o seu giro o tempo
sinto o gosto da alegria
clara manhã, obrigado
pois que a hora mais bela
surge da hora de maior agonia

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Transbordamento da Alma

Uma vontade física de comer o universo
Toma às vezes o lugar do meu pensamento
Sinto com o pensamento
Que é uma chama queimando para todos os lados
E sinto tudo excessivamente
Não sei outra maneira de ser

Quanto mais eu sentir
Estiver, transcender, viver, for
Mais possuirei a existência total do universo
E minha alma será uma escada para Deus
Pois tudo que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo

sábado, 22 de janeiro de 2011

Poeira Sideral

Minha última paixão explodiu-me
Em bilhões de partículas
De poeira sideral
Como uma supernova tornando-se
Rapidamente num buraco negro
Na imensidão do vácuo

A odisséia de Ulisses agora
É juntar essa poeira
Mas com o cuidado de me esquivar
Do que não me serve mais
Do que tenho de escuridão e mesquinhez

Mas esse (o não me serve)
Teima em grudar nos meu pés
E eu a escorçá-lo
Que onde ele junta cria musgo e raízes

Mas divino herbicida me servirá
Limpará meu coração
Para o dedicar a quem merece,
À vida, ao entusiasmo, ao ágape
Sem esquecer as musas das artes e as ninfas do mar

Farrapos Humanos

Quanto mais tu te tornas presente
Mais eu me sinto só
Essa insistência com sabor de desprazer
Entorta meus caminhos já frágeis
E praticando apenas teorias
Ludibriado sigo rumo a um poço sem fundo

Ri agora, desfrutas da minha fraqueza
Enquanto não me ergo
Da cova que cavei

Ontem você foi mais forte
Hoje teu nome é desprezo
Amanhã ainda não saberei

Mas na certeza de que nada é eterno
Um dia tu não estarás mais por perto
E assim me libertarei

Pois a teoria se pratica
A vontade não será mais submissa
E o sóbrio desejo se tornará nossa lei